Culturalmente, no Brasil, ocorre todos os anos o carnaval. Um evento muito esperado com folia, samba, fantasias, enfeites e muito brilho. Para colorir essa festa é comumente utilizado o glitter que dará cor e brilho. Entretanto esse adereço pode ser um grande risco ao meio ambiente.
Em sua composição, o glitter apresenta partículas minúsculas com menos de 5 mm de tamanho, de tereftalato de polietileno (PET) ou cloreto de polivinila (PVC) revestidos com alumínio para criar uma superfície reflexiva, formando os micros plásticos que são de difícil decomposição, ou seja, não são biodegradáveis. Já foram encontrados vestígios de glitter na placenta humana, no caule de plantas, no coração humano e até próximo ao topo do Everest1.
Ele pode interferir na cadeia alimentar além de atingir principalmente a vida marinha através do seu despejo nas águas. Acredita-se que mais de 8 milhões de toneladas métricas de glitter foram depositadas nos oceanos nos últimos anos. O glitter dificulta o crescimento de alguns organismos aquáticos como as cianobactérias (algas verdes azuladas), que são de grandes importâncias para os ciclos biogeoquímicos da água e do solo2.
Por ter metais como o alumínio presente, pode atrapalhar a passagem de luz pela água e comprometer a fotossíntese, sendo determinadas algas podem precisar de até 37% a mais de luz do que normalmente necessitam3.
O glitter gruda no corpo e na roupa e requer muito esforço para ser retirado. Quando está no chão e no asfalto requer o mesmo esforço para ser retirado e muitas vezes ficam resquícios dele no solo. Quando ocorre as chuvas favorecem o seu escoamento para bueiros e consequentemente contaminam as águas.
O glitter não é reciclável, e quando misturados outros produtos que são recicláveis como garrafas e papeis, o tornem inviáveis para esse fim, por causa do risco de contaminação.
Para mitigar os efeitos do glitter, foi criado uma versão biodegradável, que apresenta em sua composição um núcleo de celulose regenerada modificada (MRC), proveniente principalmente de eucaliptos, e revestido com alumínio para refletividade e coberto por uma fina camada de plástico. Outra forma de glitter é o de mica, que é um tipo de mineral cada vez mais usada em cosméticos. Entretanto, alguns estudos detectaram que seus efeitos ao meio ambiente são semelhantes ao glitter convencional. Além do mais, foi identificado o aumento na presença de caramujos não nativos, que geralmente são encontrados em águas polidas, interferindo na cadeia alimentar1.
Sendo assim, os foliões devem estar atentos aos prejuízos causados por esse mal silencioso e evitar o seu uso, preferindo adereços mais sustentáveis ou fazendo seu próprio glitter como por exemplo sal, açúcar ou gelatina com corante alimentício, pó de mica, urucum ou pimentão, glitter de confeiteiro ou protetor solar colorido são algumas opções para enfeites.
1GALIKEU, Revista. Carnaval: entenda os efeitos ambientais de usar glitter em 5 tópicos. Revista Galileu, janeiro/2024. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/ciencia/meio-ambiente/noticia/2024/01/carnaval-consciente-entenda-os-riscos-ambientais-do-glitter-em-5-topicos.ghtml
2MOIÓLI, Julia. Glitter prejudica o crescimento de organismos com papeis importantes nos ecossistemas aquáticos, mostra estudo. FAPESP. Agosto/2023. Disponível em: https://phys.org/news/2023-08-glitter-impairs-growth-key-roles.html
3PESSOA, Carolina. Estudo da UFSCar aponta os riscos do glitter para a vida aquática. Radio agência. Fevereiro/2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/meio-ambiente/audio/2024-02/estudo-da-ufscar-aponta-os-riscos-do-do-glitter-para-vida-aquatica